Em 1708

  • No Bispado, & Provedoria de Lamego, huma legoa de Escalhão para o Sul, três ao Nordeste de Pinhel, & outras tantas de Almeyda para o Norte, em sitio alto, & forte por natureza tem seu assento a Villa de Castello Rodrigo , fundada pelos Turdulos, 500 anos antes da vinda de Christo.
  • Depois se arruinou, & a mandou povoar ElRey D. Dinis pelos anos de 1296. aumentandoa com forte Castello, que devia encarregar a algum Cavalleiro , chamouRodrigo, do qual (como se presume) & do feu Castello se chamou Castello Rodrigo.
  • Segunda vez se arruinou com continuas guerras, & a reedificou ElRey D. Manoel pelos anos de 1509 & lhe deo foral.
  • Forão senhores della os Infantes D. Pedro, filho do Rey D. Affonso o Sabio de Castella, & D. Fernando, filho do referido Rey D. Manoel.
  • Foy cabeça de Condado, merce delRey D. Felippe o Segundo a D. Christovão de Moura, seu grande valido, & de Marquezado, cujo titulo lhe deo El Rey D. Felippe o Terceiro, fazendo-o Grande de Espanha.
  • He esta Villa Praça de Armas, cercada de muros com duas portas, a do Sol, & de Alverca, & tem hum Castello com suas torres, que serve de Palacio do dito Marquez.
  • Tem 80 visinhos com hua Igreja Parroquial da invocação de N. Senhora de Rocamador , Vigayraria, que apresenta o Bispo, Casa de Mifericórdia, Hospital & nas fraldas da Villa hum quarto de legoa para o Nascente o Convento de S. Maria de Aguiar, fundado por ElRey D. Affonfo Henriques, que lhe deo carta de Couto em Coimbra pelos annos de 1174.
  • Nelle está sepultada o Doutor Fr. Bernardo de Brito, diligentissimo investigador das Antiguidades da nossa Lufitania, a quem se deve o descobrimento de muitas, que o tempo tinha sepultadas .
  • Chama-se o dito Convento de S. Maria da Torre de Aguiar, por causa do rio & da Torre, de que este Convento he senhor , a qual ele de boa cantaria, & tem junto a si a Aldea do mesmo nome, que também ele sugeita. Nelle residem 20 Frades, e tem três mil cruzados de renda.
  • Ele Alcayde mór desta Villa Henrique Jaques de Magalhiens; tem voto em Cortes com assento no banco onze &por Armas as Reaes de Portugal ao revez, o elmo para baixo, por não dar entrada a ElRey D. João o Primeiro passando por ella para Chaves, enquanto seus moradores estavamõ da parte da Rainha de Castella , Dona Brites, filha do nosso Rey D. Fernando; & porque Pinhel o acompanhou, a ilustre o mesmo Rey D. João com o título de Guarda môr dos Reynos de Portugal, & lhe someteo Caftello Rodrigo com algumas obrigaçoens, que fe haviaõ de trabalhar em tempos certos do ano, que Pinhel deixou perder.
  • Tem Juiz de fóra, Vereadores, hum Procurador do Concelho, hum Escrivao da Camera, hũ Juiz dos Orfaos com dous Escrivaens, cinco Tabelliaens do Judicial & Notas & hum Alcayde; & tem de presidio huma Companhia de Infantaria paga, & hum Capitao mór.
  • He fertil de pao, vinho, gado, caça, & peixe do rio Aguiar, que lhe fica perto, & desagua no Douro
  • O seu termo he grande, & tem muitos lugares, os principaes são os seguintes:

Villar Damargo tem 110 vi sininhos com huma Igreja Parroquial da invocaçao de S. Miguel, Abbadia da provisaõ ordinaria.

Algodres tem 210 vi sininhos com huma Igreja Parroquial da invocação de N. Senhora da Lagoa, Abbadia da mesma apresentação do Bispo.

Freyxèda do Torrao tě 320 vi s inhos cõ hua Igreja Parroquial da invocação de N. Senhora dos Anjos, Abbadia da mesma apresentação.

Quinta de Pedro Martins tem 40 visinhos com huma Parroquia dedicada ao Espirito Santo, Curado anexo à Igreja de N. Senhora das Cãdeas de Penha de Aguia, que apre s enta o Vigario della.

Penha de Aguia tem 50 visinhos com huma Igreja Parroquial da invocação de N.Senhora das Cães , Vigayraria da provi s aõ ordinaria

Almofàla tem 68 visinhos  com huma Igreja Parroquial dedicada a S. Pedro, Abbadia da provi s ao ordinaria.

Villar Turpim tem 210 visinhos  com huma Igreja Paroquial  da invocação de N. Senhora dos Prazeres, Vigayraria da provisao  ordinaria, & Comenda de Chris to .

Escarigo tem 110 visinhos  com huma Igreja Parroquial, Ora go S. Miguel, Vigayraria da provi s ao ordinaria.

Vermios a tem 160 visinhos  com huma Igreja Parroquial dedi cada a N. Senhora da Cōceição, Vigayraria da provi s aō ordinaria.

Nave Redonda tem 40 visinhos  com huma Igreja Parroquial,  Orago Santiago Curado anexo à Vigayraria de N. Senhora de  Rocamador da Villa de Catello Rodrigo.

Mata de Lobos tem 130 vifinhos com huma Igreja Parroquial  da invocação de S. Marinha, Reytoria, que apre s enta o Comenda dor da Ordem de Cristo a , a quem pertencem os dizimos

em " Corografia Portuguesa "


Em 1860

  • Está edificada esta pequena villa e antiga praça d'armas em logar alto e forte por natureza, na provincia da Beira, comarca de Trancoso, d'onde dista sete léguas para o nordeste e três da cidade de Pinhel para o nornordeste.
  •  Os nossos antiquarios fazem derivar a sua fundação dos turdulos, quinhentos anos antes da era christã. Pondo de parte estas opiniões, ordinariamente falta de bom fundamento, e partindo de tempos menos remotos, e mais conhecidos, diremos que, achando-se aquela povoação quase inteiramente arruinada e esperando dos seus moradores em tempo d'el - rei D. Diniz, esta monarca mandou reedificar e povoar em 1296. Por essa ocasião ahi fez construir para sua defesa um forte castelo .
  •  A proximidade em que se acha esta povoação da fronteira hespanhola, foi causa de padecer tantos malditos nas guerras, que se atearam entre os dois paises em diversas épocas; mas principalmente no reinado de D. Fernando, e no começo do de D. João I, que outra vez chegou a deploravel estado de ruina, em tempo d'el-rei D. Manuel, que a restaurou, e lhe deu foral pelos anos de 1509.
  • Quando D. Filippe I de Castella se viu senhor de Portugal pela força das armas, e talvez ainda mais pelas perfídias e traições de alguns desnaturados portugueses, galardoou os serviços que lhe prestou D. Christovão de Moura com o título de conde de Castello Rodrigo. Filippe III elevou este mesmo título a marquezado.
  •  Em Julho de 1664 veio pôr-lhe sitio o duque de Ossuna com um exercício de hespanhol. E no dia 6 d'esse mez e anno foram os sitiantes derrotados, e levantado o cêrco pelo exercício português com mandado pelo primeiro visconde de Fonte Arcada.
  •  A villa de Castello Rodrigo está situada sobre um monte, estendendo-se para o lado do sul . E' cercada de muros, com treze torres. O seu castello merece ser visitado por curiosos d'antiguidades. Tem duas portas, chamadas do Sol, e de Alverca. No centro ergue-se a torre de menagemde muita altura, toda de cantaria, de forma quadrada, com seis grandes janelas.
  • Dentro d'este castelo vê-se ainda o palacio arruinado, que ali mandou construir D. Christovão de Moura, o primeiro conde e primeiro marquez de Castello Rodrigo, que era obra de boa arquitectura. Junto à porta da Alverca, da parte de dentro, há um poço bem construído, de bastante profundidade, e abundante água potável. E no sítio denominado Alvaca, também no interior da fortaleza, existe uma cisterna , aberta na rocha, e com sessenta e três degraus .
  •  Tem esta villa uma única freguesia, da invocação de Nossa Senhora do Roque Amador, que está situada no meio da povoação.
  • Tem hospital e casa de misericordia, e tres ermidas.
  • Nos arrabaldes há várias fontes, de que se abastecem uma villa, e que regam algumas hortas e pomares . O termo é extenso, e produz cereais, algum vinho, muitas pastagens, onde há criação de gado e abundância de caça.
  •  O rio Aguiar, que o banha, e que vae desaguar no Douro, fornece alguma pesca.
  •  A um quarto de légua da villa está o antigo edifício do extinto mosteiro de Santa Maria da Torre de Aguiar, fundação de D. Affonso Henriques, e que pertenceu aos monges de S. Bernardo. Foi um santuário ao qual concorriam outr'ora muitas romarias. Na egreja está a sepultura do celebre cronista-mór do reino frei Bernardo de Brito.
  • Castello Rodrigo, hoje de bem pouca importância, e com uma população diminutissima, na antiga organização do paiz tinha voto em côrtes com assento no banco décimo primeiro.
  • O seu brasão d'armas é um escudo com as armas reaes ao revez, a parte superior para baixo. Foi um dos castigos, que infligiu a esta villa o rei D. João I, porque os seus habitantes, seguindo o partido de D. Beatriz, filha do nosso rei D. Fernando, e mulher de D. João I de Castella, na guerra da sucessão, recusaram dar entrada aquelle soberano, quando por ali passou em direcção à praça de Chaves.
  • Dizem que a villa tomou o nome do seu castello, e do seu primeiro alcaidemór, chamado Rodrigo. Andava esta carga na familia dos viscondes de Fonte Arcada.

em  As cidades e vilas da monarquia portuguesa - vol I


Em 1994

A IGREJA de SANTA MARIA de AGUIAR

  • É quase tudo o que resta do primitivo conjunto conventual medievo. Situado num amplo vale, o mosteiro teve uma história particularmente agitada no século XVI, de que chegaram até nós ecos suficientemente fidedignos para nos darem uma ideia das relações que se teciam entre esse mundo de religião e o mundo mundano em que as casas conventuais estavam inseridas. Como se verá nas histórias do abade D. João.
  • Esta é a Terra de Riba-Côa, antigo território leonês, situado entre o rio Côa e Águeda, de que o rei D. Dinis teve a sabedoria de apropriar-se, situação que soube fazer sancionar, em 1927 pelo tratado que tomou o nome da leonesa vila de Alcañices. Ora, o Mosteiro de Santa Maria de Aguiar fica precisamente em terras de Riba-Côa. Conquistada aos muçulmanos esta «língua de terra» por Fernando Magno, na primeira metade do século XI, parece que Afonso Henriques a terá tido de posse, de alguma maneira, ou disputado o seu domínio, até 1169, data em que é aprisionado em Badajoz por Fernando II, rei de Leão. Da indefinição, em termos de senhorio, destras terras, ainda no século XII, lhe vem discutir-se a paternidade da fundação do velho mosteiro.
  • Integrado em Cister pelos anos 60-70 do século XII, Santa Maria de Aguiar (ou ainda Convento de Torre das Águias, a Torre de Almofala, local onde esteve primitivamente situado), será filiado no mosteiro leonês de Moreruela (Zamora), havendo também notícia da sua filiação na abadia francesa de BoulBonne. A verdade é que, em 1190, a casa se fará representar nos capítulos gerais cirtercenses. Todavia, após incorporação da faixa de Riba-Côa no território português, irá filiar-se em São João de Tarouca.
  • Situado numa zona fronteira, de insegurança, sofrerá o mosteiro as vicissitudes de guerra e da paz. Mas, ainda que em tempo de paz, não deixou de viver atribulado em termos de sucessos e insucessos económicos. Foi nomeadamente o que aconteceu durante o período em que esteva entregue aos abades comendatários, que, quer porque se apropriavam das rendas conventuais, quer porque exerciam uma gestão defeituosa, deixavam muitas vezes os mosteiros em situação de ruína. Entre estes abades emergirá em santa Maria de Aguias, mas a outro título, o senhor D. João Ferrão. Personagem importante junto do Papa, a protonotário (alto funcionário) em Roma, onde reside durante 30 anos a comenda do Mosteiro de Santa Maria de Aguia advém-lhe como mercê pontifícia.
  • Cónego regular de Santo Agostinho, abade de S. Maria das Águias, D. João consegue obter do bispo de Roma a transmissão (com intervalo preenchido por D. Manuel de Noronha) do abadessado para seu filho Álvaro, em 1525, mas mantendo-se ele como usufrutuário. Tinha o filho do cónego 14 anos e vai conservar-se à frente do mosteiro até ao dia em que morre em 1589. Quanto ao pai, esse tem muito que se lhe diga. (…) Não desmerece o cónego das figuras mais destacadas da época em assassínio, violação, amores plurais, vasto estendal de amadas. Frades sicários a soldo, veneno e arma branca, conhecem-se vítimas suas, mortais, histórias relatadas a Saulieu com algum pormenor. Denunciam-no por violação de donzela. Por despeito ou ciúme, uma das namoradas do cónego, Leonor Fernandes, acusa-o, perante o abade de Cadaval, de ter dormido (passe o eufemismo) em plena igreja com outra Leonor, esta Rodrigues de apelido. (…)

In ROTEIROS DE PORTUGAL – CONVENTOS DE CISTER, 2ª. Série, pág. 16 em 1 de Outubro de 1994.


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