Escudo de ouro, cruz da Ordem de Cristo e uma prensa de uvas de vermelho, realçada de prata, posicionados em pala e cinco mós de azul em orla, duas nos cantões, duas nos flancos e uma na ponta. Coroa mural de quatro torres. Listel branco, com a legenda a negro: «CINCO VILAS».


Em 1708

  • Duas legoas de Almeyda para o Norte, outras tãntas de Pinhel para o Nascente, & cinco de Trancoso para a mesma parte, em sítio baixo tem assento esta Villa, cercada de hu monte pela parte do Sul, a qual
  • he da Prelazia de Thomar,
  • & lhe deo foral ElRey D. Manoel em Evora aos 15.de novembro de 1519.
  • Tem 80 visinhos
  • com huma Igreja Parroquial, Priorado da Ordem de Christo ,
  • & huma Ermida de N. Senhora do Pereiro, imagem milagrosa.
  • He abundante de pao, gado , & caça , & recolhe algum azeite.
  • Dista huma legoa do rio Coa, que lhe fica para o Poente, aonde està huma ponte de cantaria na estrada de Pinhel para esta Villa, a qual he da Provedoria de Lamego.

in Corografia Portuguesa


A Ordem de S. Julião do Pereiro

A resistência do Cristianismo ao Islamismo no território de Riba Côa e a ação da Ordem dos Templários, durante o século XII, foram, em meu entender, o principal incentivo para o nascimento da Ordem de São Julião do Pereiro, em 1156, nas imediações do rio Côa .

Possuímos várias fontes que nos informam sobre a origem desta Ordem. João Bautista de Castro, no “Mapa de Portugal Antigo e Moderno”, tomo II, pág. 48, diz que esteve na origem desta Ordem um ermitão português chamado Amando, no tempo do Conde D. Henrique. Vivia numa pequena ermida, junto do rio Côa e da Vila do Pereiro, termo de Pinhel. Aqui a palavra vila deve conservar o significado que tinha entre os romanos, de herdade agrícola.

O ermitão garantiuu um jovem nobre chamado Soeiro, de Salamanca, a criar uma ordem de cavalaria para combater os mouros.

Encontramos esta mesma informação em D. Joaquim de Azevedo, na História Eclesiástica da Cidade e Bispado de Lamego, mas não o recuo ao tempo do Conde D. Henrique. Outras fontes, como a da História de Salamanca a que nos iremos buscar, precisam a data de 1156, muito distante daquela em que viveu o Conde. 

Voltemos a D. Joaquim de Azevedo. Indica que a Ordem nasceu perto da povoação de Cinco Vilas, em Riba Côa e próximo do Pereiro. O nome cinco vilas recorda também a origem romana do termo vila como herdade. Refere D. Joaquim que na freguesia de Cinco Vilas está a capela de São Julião do Pereiro, onde foi fundada aquela ordem militar quando Riba Côa era ainda de Castela e fronteira com os mouros. Diz basear-se em Brandão, na Monarquia Lusitana, tomo III, livro 10, capítulo 37. Aponta o ano de 1155, aquele em que o cavaleiro D. Soeiro, por inspiração do ermitão Amando, se consagrou na dita capela à luta contra os mouros (pág. 201). O ermitão tornou-se também guerreiro. O bispo de Salamanca, D. Ordonho assumiu a milícia, confirmado em 1183 pelo Papa Lúcio III. Esta milícia ficou com organização às que já existiam. Alexandre III e Inocêncio III confirmaram o estatuto da Ordem. O Rei D. Afonso IX, ao conquistar Alcântara, doou a cidade à Ordem de Calatrava, que cedeu à de São Julião do Pereiro. A partir daí mudou o nome para Ordem de Alcântara.

D. Joaquim de Azevedo diz que na capela de São Julião, perto do Côa, veneravam ainda no século XVIII, uma imagem de Nossa Senhora e muitas relíquias e que a Câmara de Castelo Rodrigo vinha ali assistir à missa no dia da Ascensão. Os moradores de Cinco Vilas enterravam-se na capela os que morriam no dia 8 de setembro.

M. Villar y Macias, na História de Salamanca, livro II, diz que em 1156 os cavaleiros salmantinos, D. Suero Fernandez e seu irmão D. Gomez, empenhados na luta contra os mouros da fronteira procuraram fixar-se numa zona agreste, perto do rio Côa, entre Trancoso e Ciudad Rodrigo, chamado Pereiro, por ser muito rico em pereiras. Ali vivia uma ermida dedicada a São Julião e nela um ermitão chamado Pedro Amando, que tinha participado na conquista da Terra Santa. Aconselho aqueles cavaleiros a levantarem ali uma fortaleza. Assim construíram e criaram com outros cavaleiros uma milícia, que chamaram de São Julião do Pereiro. Esta milícia ficou sujeita à Regra de Cister, sob as ordens do Bispo de Salamanca, D. Ordonho.

Anos depois, quando foi conquistada Alcântara, passou a Ordem a usar o nome desta vila, que lhes foi doada. D. Soeiro foi morto num combate contra os mouros.

João Bautista de Castro refere que em 1620, ao desfazerem o altar da Igreja de São Julião do Pereiro, encontrou por baixo dele, uma arca de pedra que tinha dentro uma certa quantidade de incenso, ouro e mirra, concomitante de um pergaminho que dizia ter pertencido à mística oferta dos Reis Magos quando Jesus nasceu em Belém. Aquelas relíquias foram autenticadas pela autoridade religiosa e a partir de então, no dia da Ascensão, os fiéis ali acorriam para as venerar. Foram elásticos para Pinhel. Esta notícia é dada também pelo Agiólogo Lusitano, tomo I, página 58.

Em 1962 fiz prospecções arqueológicas nesta área do Côa e encontrei, não distante de Cinco Vilas, restos de uma edificação que poderão estar relacionados com a primeira residência dos cavaleiros da Ordem. A observação foi muito breve ao cair da noite e, infelizmente, no dia seguinte tive de regressar ao Porto. Pensei voltar ali, com tempo para um estudo aprofundado do local e dos restos, mas infelizmente, até hoje não tive essa oportunidade. Decorreram mais de 50 anos e apagou-se a memória e sumiram-se os apontamentos que então registraram. De qualquer modo, deixei aqui esta informação, mantendo a esperança de poder concluir esse estudo.

In “Riba Côa, Berço da Ordem de São Julião do Pereiro”, do Prof. Doutor Adriano Vasco Rodrigues

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SÃO JULIÃO DO PEREIRO

O templo de S. Julião do Pereiro fica próximo do de Santa Maria do Pereiro, e ambos na freguesia de Cinco Vilas (8.° - vol., pag. 430, col. 1ª). É uma igreja antiquíssima.

Em 1155, reinando em Leão D. Fernando II, e em Portugal, seu sogro, D. Afonso Henriques, um fidalgo de Salamanca, por nome D. Soeiro, e outros cavaleiros, determinaram construir uma fortaleza na fronteira mourisca, para dali fazerem entradas nas terras dos infiéis. Procuraram sítio apropriado, e aparecendo-lhe um eremitão que vivia em uma capela, junto ao rio Côa os induziu a edificar uma torre próxima à sua ermida. Começaram logo a obra, concorrendo para ela os cristãos dos arredores com o seu trabalho e condução dos materiais precisos.

Construída a fortaleza, entrou logo os cavaleiros a fazer correrias nas terras dos árabes, saqueando-as e fazendo muitos cativos, o que atraiu á fortaleza muitos outros cavaleiros, que, pouco tempo depois, formaram uma ordem militar, que denominaram de S. Julião do Pereiro, e que depois

se chamou de Alcântara.

Morto D. Soeiro, lhe sucedeu no governo da ordem, seu irmão D. Gomes.

Na batalha do Arganal (1176) em que D. Fernando II venceu seu sogro, D. Afonso Henriques, estes cavaleiros ajudaram muito ao rei leonês, porque nesse tempo quase todo o Riba-Côa permaneceu ao reino de Leão, e só veio para Portugal, em dote da rainha Santa Isabel, em 1282.

D. Fernando II, em recompensa dos serviços prestados por estes cavaleiros, na dita batalha, lhes deram os senhorios do Pereiro, Arreigada (ou Reigada), Vilar-Turpim, Colmeal, Almendra, e Granja do Fonseca, além de outros muitos outros privilégios.

Esta ordem prestou grandes serviços ao cristianismo, vencendo e derrotando os mouros em muitos combates e tomando-lhes as suas povoações, incluindo o castelo de Almeida.

Tendo D. Afonso IX, de Leão, dado a estes cavaleiros a vila de Alcântara, para lá transferiram a sede da ordem, abandonando o Pereiro, e tomando a denominação de cavaleiros de Alcântara. Seguiam a regra de S. Bento

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SANTA MARIA DO PEREIRO

Templo antiquíssimo. Beira Baixa, pertencente à freguesia da Vila de Cinco Vilas, (Vide Cinco Vilas, n.º 8º vol., pág. 297, col. 2ª a repetição da mesma palavra.)

Fica o templo de Santa Maria do Pereiro, a pouca distância da vila de Castelo Rodrigo, na antiga comarca de Riba-Côa (hoje Sabugal).

É uma igreja vasta e muito formosa, posto ser muito antiga, o que facilmente se conhece pela sua arquitectura.

Não sei com que fundamento, dá o povo daqui o nome de Santa Maria do Pereiro, à padroeira desta igreja; e também alguns a denominam, Igreja das Santas Relíquias.

Ninguém sabe a data da construção deste templo, e só que é antiquíssimo.

Segundo a tradição constante, houve neste sítio, em tempos remotos, uma grande povoação, que foi abandonada e caiu em ruínas.

In “Portugal Antigo e Moderno”, de Pinho Leal (1874, Vol. 2, Pág. 187)


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